Evangelho do dia – domingo, 1 de setembro de 2024 – Marcos 7,1-8.14-15.21-23 – Bíblia Católica

Primeira Leitura (Dt 4,1-2.6-8).

Leitura do Livro do Deuteronômio.

Moisés falou ao povo, dizendo: “Agora, Israel, ouve as leis e os decretos que eu vos ensino a cumprir, para que, fazendo-o, vivais e entreis na posse da terra prometida pelo Senhor Deus de vossos pais. Nada acrescenteis, nada tireis, à palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus que vos prescrevo. Vós os guardareis, pois, e os poreis em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência perante os povos, para que, ouvindo todas estas leis, digam: ‘Na verdade, é sábia e inteligente esta grande nação!’ Pois, qual é a grande nação cujos deuses lhe são tão próximos como o Senhor nosso Deus, sempre que o invocamos? E que nação haverá tão grande que tenha leis e decretos tão justos, como esta lei que hoje vos ponho diante dos olhos?”

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.



Segunda Leitura (Tg 1,17-18.21b-22.27).

Leitura da Carta de São Tiago.

Irmãos bem-amados: Todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto; descem do Pai das luzes, no qual não há mudança, nem sombra de variação. De livre vontade ele nos gerou, pela Palavra da verdade, a fim de sermos como que as primícias de suas criaturas. Recebei com humildade a Palavra que em vós foi implantada, e que é capaz de salvar as vossas almas. Todavia, sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Com efeito, a religião pura e sem mancha diante de Deus Pai, é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

Evangelho (Marcos 7,1-8.14-15.21-23).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos.

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, os fariseus e alguns mestres da Lei vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus. Eles viam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. Com efeito, os fariseus e todos os judeus só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos. Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre. Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram então a Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?” Jesus respondeu: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”. Em seguida, Jesus chamou a multidão para perto de si e disse: “Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem”.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.



Refletindo a Palavra de Deus

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Imaginem uma bússola. Um instrumento simples, mas poderoso, capaz de guiar viajantes através de vastos oceanos e densas florestas. Agora, imaginem essa bússola com a agulha girando freneticamente, incapaz de encontrar o norte verdadeiro. Que utilidade teria? As leituras de hoje nos convidam a refletir sobre nossa própria bússola moral e espiritual, desafiando-nos a examinar se estamos verdadeiramente alinhados com a vontade de Deus ou se estamos perdidos em um mar de tradições vazias e hipocrisia.

Na primeira leitura, Moisés se dirige ao povo de Israel às portas da Terra Prometida. Suas palavras ressoam com urgência e importância: “Agora, Israel, ouve as leis e os decretos que eu vos ensino a cumprir, para que, observando-os, vivais e entreis na posse da terra que o Senhor, Deus de vossos pais, vos dá.”

Moisés não está simplesmente entregando um conjunto de regras arbitrárias. Ele está oferecendo um caminho para a vida, um mapa para a bênção. Ele enfatiza que estas leis e decretos são uma dádiva de Deus, uma manifestação de Sua sabedoria e amor. “Não acrescentareis coisa alguma ao que vos ordeno, nem suprimireis nada”, adverte Moisés. Por quê? Porque a lei de Deus é perfeita, completa em si mesma. Qualquer adição humana corre o risco de distorcer sua beleza e propósito.

Moisés vai além, destacando que a obediência a estas leis não é apenas para o benefício de Israel, mas um testemunho para as nações: “Que grande nação há cujos deuses lhe sejam tão próximos como o Senhor, nosso Deus, sempre que o invocamos?” A fidelidade de Israel à lei de Deus deveria ser um farol de sabedoria e justiça para o mundo.

Passando para a carta de Tiago, encontramos um eco deste chamado à fidelidade, mas com uma ênfase na ação. “Sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”, exorta Tiago. Não basta conhecer a lei de Deus; devemos vivê-la.

Tiago nos oferece uma definição poderosa e prática de religião verdadeira: “A religião pura e sem mancha diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guardar-se livre da corrupção do mundo.” Que contraste marcante com uma religiosidade baseada apenas em rituais externos ou observâncias legalistas!

Esta passagem nos desafia a examinar nossa própria prática de fé. Estamos apenas acumulando conhecimento religioso, ou estamos permitindo que a Palavra de Deus transforme nossas ações e atitudes? Nossa fé se manifesta em compaixão prática pelos necessitados e em uma vida de integridade?

É com este pano de fundo que chegamos ao Evangelho, onde Jesus enfrenta diretamente o perigo da religiosidade vazia. Os fariseus e alguns escribas criticam os discípulos de Jesus por comerem com as mãos impuras, sem realizar o ritual de lavagem. À primeira vista, isso pode parecer uma preocupação legítima com a pureza ritual. Mas Jesus vê além da superfície e expõe o coração do problema.

Citando o profeta Isaías, Jesus declara: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. Em vão me prestam culto, pois o que ensinam são preceitos humanos.” Que acusação contundente! Jesus está denunciando uma religião de aparências, onde rituais externos substituíram a verdadeira devoção do coração.

Jesus vai além, explicando que não é o que entra no homem que o torna impuro, mas o que sai dele. Do coração humano, diz Jesus, é que procedem os maus pensamentos, as imoralidades, os roubos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, o orgulho, a insensatez.

Esta é uma inversão radical da compreensão tradicional de pureza e impureza. Jesus está nos chamando a uma transformação do coração, não apenas a uma conformidade externa com regras e rituais.

Então, o que estas leituras significam para nós hoje?

Primeiramente, somos chamados a examinar nossa própria prática religiosa. Estamos, como os fariseus, mais preocupados com a aparência externa de piedade do que com a transformação interna do coração? Nossas tradições e práticas nos aproximam de Deus e dos outros, ou se tornaram barreiras à verdadeira comunhão?

Em segundo lugar, somos desafiados a ver a lei de Deus não como um fardo pesado, mas como um dom precioso. As leis e decretos que Deus nos dá não são restrições arbitrárias, mas um caminho para a vida abundante. Elas são como a bússola que mencionei no início – projetadas para nos orientar em direção ao verdadeiro norte de uma vida alinhada com a vontade de Deus.

Terceiro, somos chamados à ação. Tiago nos lembra que a fé sem obras é morta. Nossa devoção a Deus deve se manifestar em compaixão prática pelos necessitados e em uma vida de integridade. Como estamos cuidando dos “órfãos e viúvas” em nossa comunidade? Como estamos nos mantendo “livres da corrupção do mundo”?

Por fim, as palavras de Jesus nos convidam a um exame profundo de coração. Que tipo de frutos estão saindo de nosso interior? Estamos cultivando pensamentos, atitudes e ações que refletem o caráter de Cristo, ou estamos permitindo que raízes de amargura, egoísmo e maldade cresçam em nosso coração?

Meus queridos irmãos e irmãs, hoje somos convidados a realinhar nossa bússola espiritual. A voltar nosso coração para Deus com sinceridade e devoção. A abraçar Sua lei não como um conjunto de regras externas, mas como um caminho de vida e bênção. A praticar uma fé que se manifesta em amor ativo e compaixão pelos outros.

Que possamos, pela graça de Deus, ser não apenas ouvintes, mas praticantes da Palavra. Que nossa religião não seja apenas de lábios, mas de coração. Que nossas vidas sejam um testemunho vivo da sabedoria e do amor de Deus, um farol de esperança e compaixão em um mundo que tanto precisa.

E que o Deus de toda graça, que nos chamou para a sua glória eterna em Cristo, depois de termos sofrido um pouco, nos aperfeiçoe, confirme, fortifique e estabeleça. A Ele seja o domínio para todo o sempre. Amém.


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