Evangelho do dia – domingo, 2 de março de 2025 – Lucas 6,39-45 – Bíblia Católica

Primeira Leitura (Eclo 27,5-8)

Leitura do Livro do Eclesiástico.

Quando a gente sacode a peneira, ficam nela só os refugos; assim os defeitos de um homem aparecem no seu falar. Como o forno prova os vasos do oleiro, assim o homem é provado em sua conversa, O fruto revela como foi cultivada a árvore; assim, a palavra mostra o coração do homem. Não elogies a ninguém, antes de ouvi-lo falar: pois é no falar que o homem se revela.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.



Segunda Leitura (1Cor 15,54-58)

Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios.

Irmãos: Quando este ser corruptível estiver vestido de incorruptibilidade e este ser mortal estiver vestido de imortalidade, então estará cumprida a palavra da Escritura: “A morte foi tragada pela vitória. Ó morte, onde está a tua vitória? Onde está o teu aguilhão?” O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a Lei. Graças sejam dadas a Deus que nos dá a vitória pelo Senhor nosso, Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, empenhando-vos cada vez mais na obra do Senhor, certos de que vossas fadigas não são em vão, no Senhor.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

Evangelho (Lc 6,39-45)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas.

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, Jesus contou uma parábola aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco? Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre. Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho? Como podes dizer a teu irmão: irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão. Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons. Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem uvas de plantas espinhosas. O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.



Refletindo a Palavra de Deus

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Há uma antiga história sobre um monge que viajava pelo deserto quando encontrou uma pedra preciosa no caminho. Ele a guardou em sua bolsa e continuou sua jornada. Dias depois, encontrou um viajante faminto e, ao abrir sua bolsa para compartilhar o pouco que tinha, o viajante viu a pedra reluzente e a pediu ao monge. Sem hesitar, o monge lhe deu a joia. O viajante partiu exultante com sua nova riqueza, mas dias depois retornou, procurando o monge. Quando o encontrou, devolveu a pedra e disse: “Agora quero algo muito mais valioso. Quero aquilo dentro de você que o permitiu me dar esta pedra sem hesitação.”

Esta história nos convida a refletir sobre o que verdadeiramente habita em nosso interior, o que constitui o caráter que se revela em nossas palavras e ações. E é exatamente sobre isso que nossas leituras de hoje nos falam.

Na primeira leitura, o livro do Eclesiástico nos apresenta uma imagem poderosa: “Quando a peneira é agitada, ficam os resíduos; assim os defeitos de um homem aparecem no seu falar.” Que metáfora extraordinária! Imaginem uma peneira sendo sacudida – o que resta são os resíduos, aquilo que não consegue passar pelos furos. De maneira semelhante, quando somos “sacudidos” pelas circunstâncias da vida – pelo estresse, pela pressão, pelo conflito – o que permanece? O que revelamos quando somos testados?

O autor sagrado continua com outra analogia igualmente poderosa: “O forno prova os vasos do oleiro, e a prova do homem está na sua conversação.” Na antiguidade, o oleiro colocava seus vasos no forno para fortalecê-los. O calor intenso revelava qualquer falha na estrutura do vaso. Se houvesse alguma bolha de ar oculta ou uma mistura inadequada da argila, o forno a exporia impiedosamente, muitas vezes fazendo o vaso quebrar.

Da mesma forma, o calor das provas e tribulações da vida revela nosso verdadeiro caráter. Quando estamos sob pressão, quando enfrentamos adversidades, quando nos sentimos ameaçados – é nestes momentos que se manifesta quem realmente somos.

E como se manifesta? Principalmente, nos diz o Eclesiástico, através de nossas palavras. “Pela conversa se conhece o cultivo da sua alma.” Nossas palavras são o fruto mais imediato e revelador do que habita em nosso interior. Elas surgem quase instantaneamente, frequentemente sem o filtro da reflexão, revelando o estado de nossa alma.

Isto nos leva diretamente ao Evangelho, onde Jesus amplia esta verdade com várias metáforas e ensinamentos. Ele começa com uma pergunta provocativa: “Poderá um cego guiar outro cego? Não cairão ambos num buraco?” Esta imagem nos convida a examinar nossa própria visão espiritual. Estamos suficientemente iluminados para guiar outros? Temos clareza suficiente para discernir o caminho correto?

Jesus então fala da tendência humana de ver os defeitos dos outros enquanto permanecemos cegos para nossos próprios: “Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu próprio olho?” Que imagem vívida e até mesmo humorística! Imaginem alguém com uma enorme viga de madeira saindo de seu olho, tentando remover uma minúscula partícula do olho de outra pessoa. A absurdidade da imagem revela a absurdidade de nossa hipocrisia.

Mas Jesus não apenas identifica o problema; Ele oferece o caminho para a solução: “Tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão.” A autoexaminação sincera e humilde deve preceder qualquer tentativa de corrigir os outros. Devemos buscar primeiro nossa própria transformação antes de nos preocuparmos com a transformação dos outros.

E o que devemos examinar? Jesus vai ao cerne da questão: “Não há árvore boa que dê frutos maus, nem árvore má que dê bons frutos. Cada árvore é conhecida pelos seus próprios frutos.” A qualidade de uma árvore determina a qualidade de seus frutos. Da mesma forma, a condição de nosso coração determina a natureza de nossas palavras e ações.

Jesus conclui com uma verdade profunda que ecoa o ensinamento do Eclesiástico: “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau tira coisas más do mau tesouro do seu coração. Porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio.”

Aqui está o coração do ensinamento: nossas palavras e ações são frutos que revelam a natureza da árvore – nosso caráter interior, a condição de nossa alma. Nossas palavras, especialmente quando falamos impulsivamente ou sob pressão, são um barômetro preciso do estado de nosso coração.

E é aqui que a segunda leitura nos oferece esperança. Paulo, escrevendo aos Coríntios, fala da vitória última sobre a morte e o pecado através de Jesus Cristo. “Quando este ser corruptível tiver revestido a incorruptibilidade e este ser mortal tiver revestido a imortalidade, então se cumprirá a palavra da Escritura: A morte foi absorvida na vitória.” Esta promessa de transformação final nos dá esperança para nossa luta atual por transformação.

Paulo conclui com uma exortação que podemos aplicar à nossa batalha pela purificação do coração: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, progredindo sempre na obra do Senhor, sabendo que no Senhor vosso trabalho não é vão.” Nossos esforços para cultivar um coração bom, para produzir bons frutos, não são em vão. Com a graça de Deus, podemos ser transformados de dentro para fora.

Então, meus irmãos e irmãs, o que podemos levar destas leituras para nossa vida diária?

Primeiro, reconheçamos a importância de cultivar nosso coração. Assim como um jardineiro dedica atenção constante a seu jardim – regando, adubando, removendo ervas daninhas – devemos cuidar diligentemente de nossa vida interior. Isto envolve oração regular, meditação na Palavra de Deus, autoexame honesto, e abertura à ação do Espírito Santo.

Segundo, estejamos atentos às nossas palavras. Elas são os frutos mais imediatos de nosso coração. Quando falamos com raiva, com julgamento, com amargura, estas palavras são sinais de que algo está desalinhado em nosso interior. Como nos aconselha São Tiago em sua epístola: “Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para irar-se.”

Terceiro, abraçamos a graça transformadora de Deus. Não podemos mudar nosso coração apenas por força de vontade. Precisamos da ação divina em nós. Como nos lembra o salmista: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro.” Esta transformação é um trabalho conjunto – nossa cooperação com a graça de Deus.

Quarto, sejamos pacientes com o processo. A transformação do coração não acontece da noite para o dia. É uma jornada de vida inteira, com avanços e retrocessos. Quando cairmos, levantemo-nos, busquemos o perdão, e continuemos o caminho.

Finalmente, lembremo-nos sempre de que o objetivo último desta transformação não é apenas nossa própria santificação, mas também nossa capacidade de amar e servir os outros mais efetivamente. Um coração purificado transborda em amor genuíno pelo próximo.

Meus queridos irmãos e irmãs, somos como aqueles vasos do oleiro mencionados no Eclesiástico. Deus está nos moldando, nos colocando no forno das provas da vida, não para nos destruir, mas para nos fortalecer e purificar. As circunstâncias difíceis que enfrentamos são oportunidades para vermos o que realmente habita em nosso coração e para permitirmos que Deus transforme aquilo que não reflete Sua imagem.

Que possamos, como o monge de nossa história inicial, cultivar um coração tão cheio do amor de Deus que possamos dar generosamente, perdoar livremente, amar incondicionalmente. Que nossas palavras e ações sejam frutos que revelam a boa árvore que Deus está cultivando em nós. E que, ao final de nossa jornada, possamos ouvir as palavras do Mestre: “Muito bem, servo bom e fiel.”

E que a paz de Deus, que excede todo entendimento, guarde seus corações e mentes em Cristo Jesus. Amém.


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