Evangelho do dia – quinta-feira, 29 de agosto de 2024 – Marcos 6,17-29 – Bíblia Católica

Primeira Leitura (Jeremias 1,17-19).

Leitura do Livro do Profeta Jeremias.

Naqueles dias, a Palavra do Senhor foi-me dirigida: “Vamos, põe a roupa e o cinto, levanta-te e comunica-lhes tudo que eu te mandar dizer: não tenhas medo, senão, eu te farei tremer na presença deles. Com efeito, eu te transformarei hoje numa cidade fortificada, numa coluna de ferro, num muro de bronze contra todo o mundo, frente aos reis de Judá e seus príncipes, aos sacerdotes e ao povo da terra; eles farão guerra contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para defender-te”, diz o Senhor.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.



Evangelho (Marcos 6,17-29).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos.

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, Herodes tinha mandado prender João, e colocá-lo acorrentado na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, mulher do seu irmão Filipe, com quem se tinha casado. João dizia a Herodes: “Não te é permitido ficar com a mulher do teu irmão”. Por isso Herodíades o odiava e queria matá-lo, mas não podia. Com efeito, Herodes tinha medo de João, pois sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia. Gostava de ouvi-lo, embora ficasse embaraçado quando o escutava. Finalmente, chegou o dia oportuno. Era o aniversário de Herodes, e ele fez um grande banquete para os grandes da corte, os oficiais e os cidadãos importantes da Galileia. A filha de Herodíades entrou e dançou, agradando a Herodes e seus convidados. Então o rei disse à moça: “Pede-me o que quiseres e eu to darei”. E lhe jurou dizendo: “Eu te darei qualquer coisa que me pedires, ainda que seja a metade do meu reino”. Ela saiu e perguntou à mãe: “O que vou pedir?” A mãe respondeu: “A cabeça de João Batista”. E, voltando depressa para junto do rei, pediu: “Quero que me dês agora, num prato, a cabeça de João Batista”. O rei ficou muito triste, mas não pôde recusar. Ele tinha feito o juramento diante dos convidados. Imediatamente, o rei mandou que um soldado fosse buscar a cabeça de João. O soldado saiu, degolou-o na prisão, trouxe a cabeça num prato e a deu à moça. Ela a entregou à sua mãe. Ao saberem disso, os discípulos de João foram lá, levaram o cadáver e o sepultaram.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.



Refletindo a Palavra de Deus

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Hoje, nossas leituras nos confrontam com uma realidade que muitas vezes preferimos evitar: o custo do discipulado, o preço da fidelidade a Deus em um mundo que frequentemente se opõe à verdade. As palavras do profeta Jeremias e o destino de João Batista nos desafiam a refletir profundamente sobre nossa própria jornada de fé e nosso compromisso com a verdade.

Imaginemos por um momento o jovem Jeremias. Ele provavelmente sonhava com uma vida tranquila, talvez como sacerdote em Anatot, sua cidade natal. Mas Deus tinha outros planos. “Levanta-te,” diz o Senhor a Jeremias, “e dize-lhes tudo o que eu te mandar.” Que chamado intimidador! Deus está essencialmente dizendo a Jeremias: “Prepara-te para a batalha. Não será fácil, mas eu estarei contigo.”

E que batalha seria essa? Não uma luta com espadas e escudos, mas uma batalha pela verdade, pela justiça, pela fidelidade a Deus. Jeremias é chamado a confrontar reis, príncipes, sacerdotes e o povo da terra. Ele deve se levantar contra toda uma cultura de corrupção e idolatria.

Quantos de nós, ao ouvir um chamado assim, não tremeriam de medo? Quantos de nós não procurariam uma desculpa, uma saída? Mas Deus não aceita desculpas. Em vez disso, Ele promete: “Eles te combaterão, mas não prevalecerão contra ti, porque eu estou contigo para defender-te.”

Esta promessa é a chave. Deus não garante que o caminho será fácil. Ele não promete que não haverá oposição ou sofrimento. O que Ele promete é Sua presença constante, Sua proteção, Sua força. “Eu farei de ti uma cidade fortificada, uma coluna de ferro, um muro de bronze.”

Que imagem poderosa! Jeremias, esse jovem tímido e inseguro, transformado pela graça de Deus em uma fortaleza inexpugnável. Não por sua própria força, mas pela força do Deus que o chamou e o enviou.

Esta promessa não era apenas para Jeremias. É para cada um de nós que ouve o chamado de Deus e escolhe segui-lo, não importa o custo. Em um mundo que muitas vezes ridiculariza a fé, que trata a verdade como relativa, que exalta o egoísmo acima do amor sacrificial, somos chamados a ser “colunas de ferro”, firmes em nossa fé e em nossos valores.

Mas o que acontece quando o custo dessa fidelidade se torna extremamente alto? É aqui que a história de João Batista no Evangelho de hoje nos atinge com toda a sua força dramática e trágica.

João, o precursor de Jesus, o homem que o próprio Cristo chamou de “o maior entre os nascidos de mulher”, encontra seu fim em uma cela de prisão, vítima dos caprichos de um rei corrupto e de uma mulher vingativa.

Por que João estava na prisão? Porque ele ousou dizer a verdade. Ele confrontou o rei Herodes sobre seu relacionamento ilícito com Herodíades, a esposa de seu irmão. João poderia ter ficado em silêncio. Poderia ter ignorado o pecado do rei para preservar sua própria segurança e conforto. Mas ele escolheu a fidelidade à verdade acima de sua própria vida.

A cena que se desenrola no banquete de Herodes é um retrato chocante da depravação humana. Uma jovem dança para entreter os convidados do rei, e seu desempenho agrada tanto a Herodes que ele faz um juramento tolo: “Pede-me o que quiseres, e eu to darei, ainda que seja a metade do meu reino.”

Influenciada por sua mãe, a jovem pede a cabeça de João Batista. E Herodes, preso por seu próprio orgulho e pela pressão de seus convidados, cede ao pedido cruel.

Que contraste gritante vemos aqui! De um lado, temos João, o homem de Deus, firme em sua integridade até o fim. Do outro, temos Herodes, um governante poderoso, mas fraco em caráter, escravo de suas próprias paixões e do que os outros pensam dele.

Esta história nos confronta com uma pergunta desconfortável: com quem nos parecemos mais? Somos como João, dispostos a defender a verdade mesmo quando isso nos custa tudo? Ou somos mais como Herodes, comprometendo nossos valores para agradar aos outros ou para evitar o desconforto?

O martírio de João Batista pode parecer uma derrota à primeira vista. Mas visto através dos olhos da fé, é uma vitória tremenda. João permaneceu fiel até o fim. Ele cumpriu sua missão. Ele preparou o caminho para o Messias não apenas com suas palavras, mas com sua própria vida.

Meus queridos irmãos e irmãs, o que estas leituras significam para nós hoje? Certamente, poucos de nós seremos chamados ao martírio literal como João Batista. Mas todos nós somos chamados ao “martírio” diário de morrer para nós mesmos, de colocar a verdade e o amor de Deus acima de nosso conforto e segurança.

Talvez sejamos chamados a defender um colega de trabalho que está sendo tratado injustamente, mesmo que isso coloque em risco nossa própria posição. Talvez sejamos desafiados a falar contra o preconceito ou a injustiça em nossa comunidade, mesmo que isso nos torne impopulares. Ou talvez sejamos chamados a viver nossa fé de maneira visível e corajosa em um ambiente que é hostil à religião.

Qualquer que seja nosso desafio específico, podemos ter certeza de que a promessa que Deus fez a Jeremias também é para nós: “Eu estou contigo para defender-te.” Não enfrentamos esses desafios sozinhos. O mesmo Deus que fortaleceu Jeremias, que sustentou João Batista, está conosco.

E lembrem-se: nossa força não está em nós mesmos, mas em Cristo. Como Paulo escreveu: “Tudo posso naquele que me fortalece.” É a graça de Deus que nos transforma de pessoas comuns em “cidades fortificadas” e “colunas de ferro”.

Então, meus amados, que possamos sair daqui hoje renovados em nosso compromisso com a verdade e a fidelidade a Deus. Que possamos ter a coragem de Jeremias para enfrentar os desafios que virão. Que possamos ter a integridade de João Batista para permanecer firmes em nossa fé, não importa o custo.

E acima de tudo, que possamos confiar plenamente na promessa de Deus de estar sempre conosco, fortalecendo-nos, protegendo-nos, e usando-nos para Sua glória e para a expansão de Seu Reino.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai, e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vocês, hoje e sempre. Amém.


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