Evangelho do dia – quinta-feira, 8 de agosto de 2024 – Mateus 16,13-23 – Bíblia Católica

Primeira Leitura (Jeremias 31,31-34)

Leitura do Livro do Profeta Jeremias.

“Eis que virão dias, diz o Senhor, em que concluirei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança; não como a aliança que fiz com seus pais, quando os tomei pela mão para retirá-los da terra do Egito, e que eles violaram, mas eu fiz valer a força sobre eles, diz o Senhor. Esta será a aliança que concluirei com a casa de Israel, depois desses dias, diz o Senhor: imprimirei minha lei em suas entranhas, e hei de inscrevê-la em seu coração; serei seu Deus e eles serão meu povo. Não será mais necessário ensinar seu próximo ou seu irmão, dizendo: ‘Conhece o Senhor!’; todos me reconhecerão, do menor ao maior deles, diz o Senhor, pois perdoarei sua maldade, e não mais lembrarei o seu pecado”.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.



Evangelho (Mateus 16,13-23)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus.

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; Outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”. Então Jesus lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Respondendo, Jesus lhe disse: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”. Jesus, então, ordenou aos discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Messias. Jesus começou a mostrar aos seus discípulos que devia ir à Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia. Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo, dizendo: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!” Jesus, porém, voltou-se para Pedro, e disse: “Vai para longe, Satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus mas sim as coisas dos homens!”

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.



Refletindo a Palavra de Deus

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Imagine-se diante de um espelho. Não um espelho comum, mas um espelho mágico que reflete não apenas sua aparência física, mas também o estado de sua alma. O que você veria? Quem você realmente é? E mais importante, quem Deus diz que você é?

Hoje, as leituras nos convidam a uma jornada profunda de autodescoberta e renovação espiritual. Uma jornada que nos leva do antigo ao novo, da superfície ao âmago de nosso ser, de quem pensamos ser para quem Deus nos chama a ser.

Comecemos com as palavras poderosas do profeta Jeremias: “Eis que virão dias, diz o Senhor, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá.” Que declaração extraordinária! Deus, o Criador do universo, o Eterno, está anunciando algo novo. Mas o que há de tão especial nesta “nova aliança”?

Para entender, precisamos voltar no tempo. Lembrem-se do Monte Sinai, onde Deus entregou os Dez Mandamentos a Moisés. Aquela foi a antiga aliança, escrita em tábuas de pedra. Era externa, um conjunto de regras a serem seguidas. Mas agora, Deus promete algo radicalmente diferente.

“Porei minha lei no seu interior e a escreverei em seu coração.” Imaginem isso por um momento. A lei de Deus não mais como um conjunto de regras externas, mas como parte integrante de quem somos. É como se Deus estivesse dizendo: “Não quero apenas que você siga minhas regras; quero transformar seu próprio ser.”

Esta nova aliança é sobre transformação interior. É sobre Deus reescrevendo nossa identidade mais profunda. Não é mais “faça isso” ou “não faça aquilo”, mas “seja isso” – seja amor, seja compaixão, seja justiça.

E há mais: “Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.” Esta é uma declaração de intimidade, de relacionamento profundo. Não é uma relação distante entre um soberano e seus súditos, mas uma conexão íntima entre um pai amoroso e seus filhos queridos.

Mas como isso se conecta com nossas vidas hoje? Como experimentamos essa nova aliança em meio às lutas e desafios do dia a dia?

É aqui que o Evangelho de hoje entra em cena, oferecendo-nos uma ilustração vívida dessa transformação interior.

Jesus pergunta aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” As respostas variam: João Batista, Elias, Jeremias ou um dos profetas. Estas não são respostas erradas, mas são incompletas. São visões externas, baseadas em observações superficiais.

Então vem a pergunta crucial: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Esta não é mais uma pergunta sobre opiniões externas. É um convite à reflexão profunda, um chamado para olhar além da superfície e reconhecer a verdade transformadora diante deles.

E é Pedro quem responde: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” Neste momento, Pedro não está apenas recitando um fato; ele está fazendo uma declaração profunda de fé e reconhecimento. É como se os olhos de seu coração se abrissem, permitindo-lhe ver além do carpinteiro de Nazaré e reconhecer o Messias, o próprio Filho de Deus.

Jesus responde: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue que te revelaram isso, e sim meu Pai que está nos céus.” Aqui está a chave: esta revelação não veio de conhecimento humano ou raciocínio lógico. Foi uma revelação divina, um vislumbre da nova aliança em ação.

É como se Deus tivesse escrito esta verdade no coração de Pedro, cumprindo a promessa feita através de Jeremias. Pedro experimentou um momento de clareza espiritual, um instante em que a lei escrita em seu coração se alinhou perfeitamente com a realidade diante dele.

Mas a história não termina aí. Momentos depois, quando Jesus fala sobre seu sofrimento vindouro, Pedro o repreende. E Jesus responde duramente: “Vai para trás de mim, Satanás! Tu és para mim um escândalo, porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens!”

Que contraste chocante! O mesmo Pedro que recebeu uma revelação divina agora é chamado de “Satanás”. O que aconteceu?

Este é um lembrete poderoso de que a transformação interior prometida na nova aliança não é um evento único, mas um processo contínuo. Mesmo após momentos de profunda revelação espiritual, ainda podemos cair em padrões de pensamento mundanos.

Pedro, naquele momento, estava pensando segundo a lógica humana. Ele não podia conceber que o Messias, o Filho de Deus, pudesse sofrer e morrer. Isso ia contra todas as suas expectativas e desejos.

Quantas vezes nós também caímos nessa armadilha? Quantas vezes tentamos moldar Deus e Seus planos de acordo com nossas expectativas limitadas? Quantas vezes resistimos ao caminho que Ele traçou para nós porque não se encaixa em nossa visão de como as coisas deveriam ser?

A nova aliança não promete uma vida sem desafios ou confusão. Pelo contrário, promete uma transformação contínua, um processo de alinhamento cada vez maior com o coração de Deus. Às vezes, isso significa desaprender velhos padrões de pensamento, abandonar expectativas arraigadas e abraçar uma visão mais ampla do plano de Deus.

Voltando à imagem do espelho mágico, pergunto: o que você vê agora? Você vê alguém em processo de transformação? Alguém cujo coração está sendo reescrito pelo amor de Deus?

A boa notícia é que, assim como com Pedro, Deus não desiste de nós quando tropeçamos. Cada erro, cada mal-entendido, cada momento de pensamento mundano torna-se uma oportunidade para mais crescimento, mais transformação, mais alinhamento com o coração de Deus.

Jeremias nos dá outra promessa maravilhosa: “Pois perdoarei a sua iniquidade e não mais me lembrarei dos seus pecados.” Esta é a base da nova aliança: o perdão radical de Deus. Não importa quantas vezes erremos, não importa quantas vezes nossos pensamentos se desviem do caminho de Deus, Seu perdão está sempre disponível, Seu amor sempre pronto para nos realinhar.

Então, queridos irmãos e irmãs, o que fazemos com tudo isso? Como vivemos à luz desta nova aliança?

Primeiro, abraçamos nossa identidade como povo da nova aliança. Reconhecemos que Deus está continuamente escrevendo Sua lei em nossos corações, transformando-nos de dentro para fora.

Segundo, buscamos momentos de revelação divina, como Pedro teve. Isso significa criar espaços em nossas vidas para ouvir Deus, seja através da oração, da meditação na Escritura ou do silêncio contemplativo.

Terceiro, permanecemos humildes, reconhecendo que mesmo após momentos de grande revelação espiritual, ainda podemos errar. Quando isso acontecer, não nos desesperamos, mas voltamos rapidamente para Deus, confiando em Seu perdão e orientação.

Quarto, nos comprometemos a pensar “as coisas de Deus” e não apenas “as dos homens”. Isso significa constantemente alinhar nossos pensamentos, desejos e ações com a vontade de Deus, mesmo quando isso desafia nossas expectativas ou desejos pessoais.

Por fim, vivemos em comunidade. A nova aliança não é apenas individual, mas coletiva. “Eles serão o meu povo”, diz o Senhor. Juntos, como Igreja, nos apoiamos mutuamente nesta jornada de transformação.

Irmãos e irmãs, a nova aliança não é apenas uma promessa distante, mas uma realidade viva e ativa. Deus está, neste exato momento, escrevendo Sua lei em seu coração. Ele está, agora mesmo, convidando você a um relacionamento mais profundo.

Que possamos, como Pedro, ter momentos de clareza divina onde reconhecemos verdadeiramente quem Jesus é. E quando inevitavelmente tropeçarmos, que possamos rapidamente realinhar nossos pensamentos com os de Deus.

Que o Espírito Santo continue a obra de transformação em cada um de nós, reescrevendo nossas identidades, renovando nossas mentes e realinhando nossos corações com o coração do Pai.

E que um dia, quando olharmos naquele espelho mágico da alma, vejamos refletida não apenas nossa própria imagem, mas a imagem de Cristo brilhando através de nós, cumprindo plenamente a promessa da nova aliança.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vocês, hoje e sempre. Amém.


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