Evangelho do dia – sábado, 7 de setembro de 2024 – Lucas 6,1-5 – Bíblia Católica

Primeira Leitura (1Cor 4,6b-15).

Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios.

Irmãos, apliquei essa doutrina a mim e a Apolo, por causa de vós, para que o nosso exemplo vos ensine a não vos inchar de orgulho, tomando o partido de um contra outro, e a “não ir além daquilo que está escrito”. Com efeito, quem é que te faz melhor que os outros? O que tens que não tenhas recebido? Mas, se recebeste tudo que tens, por que, então, te glorias, como se não o tivesses recebido? Vós já estais saciados! Já vos enriquecestes! Sem nós, já começastes a reinar! Oxalá estivésseis mesmo reinando, para nós também reinarmos convosco! Na verdade, parece-me que Deus nos apresentou, a nós apóstolos, em último lugar, como pessoas condenadas à morte. Tornamo-nos um espetáculo para o mundo, para os anjos e os homens. Nós somos os tolos por causa de Cristo, vós, porém, os sábios nas coisas de Cristo. Nós somos os fracos; vós, os fortes. Vós sois tratados com toda a estima e atenção, e nós, com todo o desprezo. Até à presente hora, padecemos fome, sede e nudez; somos esbofeteados e vivemos errantes; fadigamo-nos, trabalhando com as nossas mãos; somos injuriados, e abençoamos; somos perseguidos, e suportamos; somos caluniados, e exortamos. Tornamo-nos como que o lixo do mundo, a escória do universo, até ao presente. Escrevo-vos tudo isto, não com a intenção de vos envergonhar, mas para vos admoestar como meus filhos queridos. De fato, mesmo que tivésseis dez mil educadores na vida em Cristo, não tendes muitos pais. Pois fui eu que, pelo anúncio do Evangelho, vos gerei em Jesus Cristo.

– Palavra do Senhor.

– Graças a Deus.

Evangelho (Lucas 6,1-5).

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas.

— Glória a vós, Senhor.

Num sábado, Jesus estava passando através de plantações de trigo. Seus discípulos arrancavam e comiam as espigas, debulhando-as com as mãos. Então alguns fariseus disseram: “Por que fazeis o que não é permitido em dia de sábado?” Jesus respondeu-lhes: “Acaso vós não lestes o que Davi e seus companheiros fizeram, quando estavam sentindo fome? Davi entrou na casa de Deus, pegou dos pães oferecidos a Deus e os comeu, e ainda por cima os deu a seus companheiros. No entanto, só os sacerdotes podem comer desses pães”. E Jesus acrescentou: “O Filho do Homem é senhor também do sábado”.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

Refletindo a Palavra de Deus

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Imaginem uma balança. De um lado, temos o peso das regras, tradições e expectativas humanas. Do outro, a leveza da graça, da liberdade e do amor divino. As leituras de hoje nos convidam a refletir sobre este delicado equilíbrio, desafiando-nos a reexaminar nossas atitudes, nossas prioridades e nossa compreensão do que realmente significa seguir a Cristo.

Na primeira leitura, São Paulo dirige-se aos coríntios com palavras que, à primeira vista, podem parecer duras, mas que são, na verdade, um chamado ao amor e à humildade. “Que ninguém se ensoberbeça, tomando o partido de um contra o outro”, diz Paulo. Estas palavras ecoam através dos séculos, atingindo-nos diretamente no coração de nossas comunidades hoje.

Quantas vezes nos pegamos julgando uns aos outros, criando divisões baseadas em nossas próprias interpretações limitadas do que significa ser um “bom cristão”? Paulo nos lembra que tudo o que temos é dom de Deus. “Que tens tu que não tenhas recebido? E se o recebeste, por que te glorias, como se não o tivesses recebido?”

Esta é uma verdade profunda que muitas vezes esquecemos. Nossos talentos, nossas habilidades, até mesmo nossa fé – tudo isso são dons de Deus. Reconhecer isso nos leva à humildade e à gratidão, não à arrogância ou ao julgamento dos outros.

Paulo então pinta um quadro vívido do que significa ser um apóstolo de Cristo: “Até a presente hora padecemos fome, sede e nudez; somos esbofeteados, andamos errantes, e nos afadigamos, trabalhando com as próprias mãos. Amaldiçoados, bendizemos; perseguidos, suportamos; caluniados, procuramos conciliar.”

Que contraste com a glória e o prestígio que muitas vezes associamos ao ministério! Paulo está descrevendo uma vida de sacrifício, humildade e amor incondicional. Ele está nos mostrando que seguir a Cristo não se trata de status ou reconhecimento, mas de servir aos outros, mesmo quando isso significa enfrentar dificuldades e rejeição.

E é aqui que nossa leitura do Evangelho se conecta de maneira poderosa com a mensagem de Paulo. Vemos Jesus e seus discípulos caminhando por um campo de trigo em um sábado. Os discípulos, com fome, começam a colher espigas, esfregá-las nas mãos e comer os grãos. Imediatamente, os fariseus se opõem: “Por que fazeis o que não é permitido no sábado?”

À primeira vista, este pode parecer um incidente trivial. Mas na verdade, é um momento crucial que ilustra o choque entre a letra da lei e o espírito do amor. Os fariseus estavam tão focados em seguir as regras que perderam de vista o propósito por trás delas. Eles se esqueceram que o sábado foi feito para o bem-estar do homem, não o homem para o sábado.

A resposta de Jesus é profunda em sua simplicidade: “Não lestes o que fez Davi, quando teve fome, ele e os que com ele estavam?” Jesus está lembrando aos fariseus que mesmo as figuras mais reverenciadas da história de Israel entenderam que, às vezes, a necessidade humana supera a observância estrita da lei.

Mas Jesus vai além. Ele declara: “O Filho do Homem é senhor do sábado.” Com esta afirmação, Jesus está reivindicando uma autoridade que só poderia vir de Deus. Ele está nos mostrando que a verdadeira observância da lei de Deus está enraizada no amor, na compaixão e na compreensão das necessidades humanas.

Então, o que estas leituras significam para nós hoje? Como podemos aplicar estas verdades em nossas vidas?

Primeiro, somos chamados a uma humildade radical. Reconhecendo que tudo o que temos e somos é dom de Deus, não temos base para nos julgarmos superiores aos outros ou para criar divisões em nossas comunidades.

Segundo, somos desafiados a reexaminar nossas prioridades. Estamos mais preocupados em seguir regras e manter aparências, ou em viver o amor e a compaixão de Cristo? Nossas tradições e práticas nos aproximam de Deus e dos outros, ou se tornaram barreiras à graça e ao amor?

Terceiro, somos convidados a uma nova compreensão do que significa servir a Deus. Como Paulo, estamos dispostos a enfrentar dificuldades, rejeição e mal-entendidos por causa do Evangelho? Estamos prontos para abençoar aqueles que nos amaldiçoam, para responder com amor àqueles que nos perseguem?

Quarto, somos chamados a ver Jesus como o “Senhor do sábado” em nossas vidas. Isto significa permitir que Ele seja a autoridade final em todas as áreas de nossa existência, confiando que Seu amor e sabedoria superam nossas interpretações limitadas da lei e da tradição.

Finalmente, somos desafiados a viver com um equilíbrio entre a fidelidade aos ensinamentos de nossa fé e a flexibilidade para responder com compaixão às necessidades humanas ao nosso redor.

Meus queridos irmãos e irmãs, hoje somos convidados a uma jornada de liberdade e amor. Uma jornada que nos leva além das aparências externas para o coração do que significa ser seguidor de Cristo. Uma jornada que nos desafia a viver com humildade, compaixão e coragem.

Imaginem como seria se cada um de nós vivesse plenamente esta realidade. Se em cada interação, cada decisão, nos perguntássemos: “O que o amor exige aqui?” Como nossas famílias seriam transformadas! Como nossas igrejas seriam renovadas! Como nossa sociedade seria impactada!

Que possamos, como Paulo, estar dispostos a enfrentar dificuldades por amor ao Evangelho. Que possamos, como Jesus, ter a coragem de desafiar interpretações estreitas da lei em favor da compaixão e do amor. E que, em todas as coisas, possamos ser guiados pelo Espírito Santo, equilibrando fidelidade e liberdade, tradição e inovação, sempre com os olhos fixos em Cristo, o Senhor do sábado e de nossas vidas.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vocês. Amém.

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