Divórcio

Entendendo o Divórcio na Sagrada Escritura

A Sagrada Escritura apresenta o matrimônio como uma união indissolúvel entre o homem e a mulher, mas o divórcio é permitido devido à “dureza de coração” dos seres humanos. Neste texto, vamos explorar as visões sobre o divórcio na Bíblia e como Cristo colocou o matrimônio em sua antiga dignidade, tornando-o uno e indissolúvel.

– A Sagrada Escritura apresenta o matrimônio como uma união indissolúvel entre o homem e a mulher, visando a alcançar o complemento mútuo:

Gn 2,24: Por isso, o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher.

– O divórcio só se permitiu a Israel devido à sua “dureza de coração”:

Mt 19,8: É por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres.

– Visando a cortar os abusos da poligamia, Moisés codificou o costume do repúdio exigindo a redação de um libelo que o marido entregava à esposa tornando-a livre. Uma vez repudiada a esposa, o marido não mais a podia tomar:

Dt 24,1-4: Se um homem, tendo escolhido uma mulher, casar-se com ela, e vier a odiá-la.

– O preceito sobre o libelo de repúdio não tem aplicação se a causa do divórcio é o adultério; nesse caso, aplica-se a pena prevista:

Lv 20,10: Se um homem cometer adultério com uma mulher casada.

Dt 22,22s: Se se encontrar um homem dormindo com uma mulher casada, todos os dois deverão morrer.

Ez 16,38-42: Eu infligirei o castigo às adúlteras e às criminosas.

Ez 23,45ss: Os justos, porém, vão julgá-las, como se faz com as adúlteras.

Jo 8,5: Moisés mandou-nos na Lei que apedrejássemos tais mulheres.

– Cristo colocou o matrimônio em sua antiga dignidade, tornando-o uno e indissolúvel:

Mt 5,31s: Foi também dito: Todo aquele que rejeitar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio.

Mt 19,3-12: É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer?

Mc 10,2-12: Perguntaram-lhe, para o pôr à prova, se era permitido ao homem repudiar sua mulher.

1Cor 7,10s: Aos casados mando (não eu, mas o Senhor) que a mulher não se separe do marido.

– Os textos citados de São Mateus podem apresentar certa dificuldade:

1Cor 5,31s: Foi também dito: Todo aquele que rejeitar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio.

1Cor 19,3-12: É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer?

– Para resolvê-la, há duas explicações mais seguidas. A primeira, que nos vem desde São Jerônimo, traduz a palavra grega porneia por adultério, má conduta ou infidelidade. Jesus teria admitido o repúdio da esposa no caso de infidelidade, mas sem autorizar novas núpcias. Realmente, ele logo acrescenta que, se o homem se casar

com uma mulher repudiada, comete pecado, assim como peca todo homem que se casa de novo antes da morte de sua esposa:

Mt 5,32: Todo aquele que desposa uma mulher rejeitada comete um adultério.

Mt 19,9: Todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimônio falso, e desposa uma outra, comete adultério.

– Se perguntarmos por que Jesus menciona o caso de adultério, podemos dizer que, se Jesus não tivesse indicado tal exceção, teria dito que o marido, repudiando a esposa infiel, a expõe ao adultério. Ora, isso seria muito para admirar. Além do mais, é de notar que o marido que surpreendesse a mulher em adultério, segundo os textos citados do Levítico e do Deuteronômio, devia denunciá-la, e o castigo era habitualmente a pena de morte. Estando morta a esposa, é evidente que, casando-se de novo, o marido não cometeria adultério. Se, porém, a esposa infiel não fosse apedrejada, conforme Jesus, não seriam permitidas novas núpcias nem ao marido nem à esposa.

– Temos ainda outra interpretação, que alcançou a aprovação de um grande número de abalizados exegetas. Os intérpretes, analisando os textos de São Mateus à luz da terminologia dos judeus contemporâneos de Cristo, concluíram, após aprofundados estudos, que o termo grego porneia corresponderia à palavra hebraica zenut, que designava não adultério e sim concubinato, isto é, união ilícita, matrimônio falso ou nulo:

Lv 18,7-18: Não descobrirás a nudez de teu pai, nem a de tua mãe.

1Cor 5,1: Ouve-se dizer constantemente que se comete, em vosso meio, a luxúria.

– Nessa hipótese, Jesus condenaria o divórcio em caso de verdadeiro matrimônio e permitiria a separação definitiva, com possibilidade de contrair novas núpcias, no caso de matrimônio nulo ou de união incestuosa.

O divórcio é um assunto complexo e delicado na Sagrada Escritura. Embora a Bíblia permita o divórcio devido à “dureza de coração” dos seres humanos, Cristo colocou o matrimônio em sua antiga dignidade, tornando-o uno e indissolúvel. É importante notar que a causa do divórcio é importante, e adultério é uma das razões mais severas.


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